Estamos vivendo um momento de dificuldade global com a pandemia de coronavírus; pode ser um bom momento para a necessidade de buscarmos a interiorização, podendo desenvolver nosso mundo interno e nos apoiar com o próximo e com o planeta. Talvez esse seja um momento para PAUSAR, o mundo nos chama para isso, parar! Podemos refletir de forma histórica o que temos à nossa frente e, com coragem, proteger e cuidar de nós (selfcare – autocuidado) e daqueles que estão ao nosso redor (compaixão).
O mundo vive alta complexidade e está em constante mudança; há muitas distrações (internet e notícias da doença) a nossa atenção está sob constante ataque, alerta para o perigo, nosso cérebro está sob ameaça e as reações fisiológicas diante disso aumentam o medo, pânico e crises de ansiedade. Como espécie humana, já passamos por muitos desafios. Guerras, pestes, catástrofes fazem parte da nossa história. Sobrevivemos por milênios, não sozinhos, mas ajudando uns aos outros, e trazemos essa memória de sabedoria ao longo da nossa trajetória.
Ao contrário de ficarmos presos ao medo e à ansiedade coletiva, podemos nos lembrar de respirar, nos concentrar e tomar precauções e proteções práticas e validadas, mas com clareza e no caminho da compaixão. Cada um de nós pode contribuir para o bem-estar de nós mesmos, de nossas famílias e de nosso planeta.
Para acalmar nossa mente e coração, precisamos praticar; são nestes momentos que precisamos ter desenvolvidas qualidades positivas de nossa mente e nosso coração com coragem e força.
Temos oportunidades para algumas mudanças internas, aproveitar esse momento onde por precaução e responsabilidade devemos ficar em casa, para realizarmos pausas meditativas, para o nosso bem e de todos os seres. Não use esse momento para cultivar o medo e disseminar o pânico, mas como uma oportunidade de aprendermos mais sobre nós mesmos. Fazer uma pausa para acalmar nossos corpos e mentes, percebendo com maior clareza sobre nossas emoções, podendo diminuir nosso sofrimento, melhorando nossa capacidade de estarmos atentos e nos cuidando.
Quero falar brevemente a vocês sobre Mindfulness:
“A minha definição operacional de Mindfulness é: a consciência que emerge quando prestamos atenção de propósito no momento presente e sem julgamento” (Jon Kabat-Zinn).
“Estar em Mindfulness é desenvolver uma consciência que surge como resultado de prestar atenção, com propósito, no momento presente, e de forma não julgadora” (Tamara Russel).
Mindfulness é uma prática meditativa secular com resultados comprovados pela comunidade científica para o tratamento da saúde mental, redução de estresse e treino de habilidades de regulação emocional.
Mindfulness, ou atenção plena, é um estado psicológico em que estamos atentos ao presente – aqui e agora. Uma atitude de treinarmos qualidades de atenção ao momento presente e autocompaixão com experiências difíceis em nossa vida. O treinamento de Mindfulness nos possibilita a percepção de nossos pensamentos, sensações corporais e emoções no instante que acontecem em nossa mente e corpo, sem reagir de maneira automática ou habitual, com nossos padrões de pensamentos e crenças internas, sair do automatismo reativo frente às situações que nos desafiam. Com essa prática, aprendemos a escolher com mais consciência, tendo atitudes mais funcionais e adequadas.
Através da prática de Mindfulness, aprendemos a regular nossas emoções desafiadoras criando um espaço (lugar) mental, mesmo em circunstâncias difíceis. Se pudéssemos colocar Mindfulness numa equação, ele seria o somatório entre intenção, atenção e atitudes (Shapiro, 2003).
A prática de Mindfulness exerce uma influência poderosa sobre a saúde, o bem-estar e a felicidade, como atestam as evidências médicas e científicas (Jon Kabat-Zinn, 2010).
Atenção é: onde está a sua atenção e no que você presta atenção
Nas palavras de William James, psicólogo americano: “A realidade está onde você coloca a sua atenção”. Ou seja, a nossa realidade é construída através do que escolhemos, consciente ou inconscientemente, prestar atenção. Portanto, saber onde está a sua atenção é vital!
As atitudes, por sua vez, são o que faz a diferença. Elas nos provocam a refletir sobre a nossa ação no mundo e nos convidam a experimentar um novo olhar curioso e uma nova postura diante da vida e de tudo que notamos e apreendemos. Elas são necessárias tanto à vivência das práticas quanto se desenvolvem a partir das práticas.
Vamos conhecer algumas das atitudes praticadas em Mindfulness:
1. Mente de principiante
É a mente da criança; curiosa, flexível. Cada momento é único e contém possibilidades únicas. Muitas vezes, deixamos que os nossos pensamentos e as nossas crenças sobre o que ‘sabemos’ nos criem obstáculos e nos impeçam de ver as coisas como elas são, e a reconhecer o potencial de mudança que existe em nós e no mundo à nossa volta.
2. Aceitação
Muitas vezes confundida com passividade ou resignação, é exercitada na prática de Mindfulness como um processo ativo de reconhecer a sua experiência num dado momento, acolher o que surge, abandonando o pensamento de como as coisas deveriam ser para se dar conta e lidar com o que as coisas são.
3. Não julgamento
Julgamentos são apenas julgamentos e não a realidade em si. Com a prática, vamos aprendendo a reconhecer o fluxo de julgamentos na mente, sem tentar pará-lo ou alterá-lo, mas ganhando consciência da sua presença e da sua influência em nossas percepções e ações.
4. Gentileza
É uma qualidade afetiva que se expressa na maneira como nos relacionamos com a nossa experiência e a experiência do outro. Envolve reconhecer e acolher o sofrimento com delicadeza e amabilidade.
5. Deixar ir
Cultivamos uma atitude de desprendimento em relação ao que não nos é útil, ao que nos mantém presos a certezas e verdades absolutas, ao que nos impede de cultivar uma visão clara e estável de nossas relações e experiências.
6. Gratidão
A prática de gratidão tem uma estreita relação com o bem-estar. Ela nos convida a sair da “lógica” da escassez, do que nos falta, e a nos conectar com a “lógica” da abundância, daquilo que já temos. Ela amplia a nossa a visão contribuindo para uma maior resiliência e saúde emocional.
Como toda e qualquer habilidade, estas atitudes podem ser cultivadas e fortalecidas com a prática. Elas são um convite para uma nova forma de ser e estar no mundo.
Aproveite este exato momento e faça uma pausa!
Te convido, gentilmente, a colocar seu corpo em uma postura atenta, porém relaxada, e leve a sua atenção para a sola dos seus pés, sinta o peso do seu corpo, preste atenção nas sensações do seu corpo. Como está o seu corpo neste momento? Sente dores? Desconforto? Como estão as suas emoções agora? Onde está a sua mente agora? Sua mente está aqui no momento presente, ou já divagou para algum lugar, no passado ou futuro?
A condição humana é de uma mente agitada e cheia de coisas para fazer, nossa mente está em atividade constante – julgando, criticando, comparando, planejando, analisando, criando histórias e trazendo muitas memórias (geralmente neste momento de pandemia – memórias negativas, experiências com medo). Estamos sempre muito “atolados” o dia todo pensando, pensando, pensando – nossa condição humana! Buscando notícias na internet e nos sobrecarregando de “negatividade”.
Mindfulness salvou minha existência
A minha história com Mindfulness é de lindas descobertas; relato aos meus pacientes, familiares e amigos que a prática de Mindfulness salvou a minha existência, passei a viver plenamente no momento presente, aprendi a cuidar da minha mente e corpo como um sistema integrativo único, aprendi a viver e habitar meu corpo no espaço.
Quero te fazer um convite agora, um bom momento para praticar em meio ao contexto pandêmico que estamos vivendo. Vamos fazer uma breve prática juntos?
Pare por um minuto agora, traga sua atenção para as sensações do seu corpo, no movimento que o seu abdômen provoca ao respirar, infla ao inspirarmos e volta ao tamanho original ao expirarmos, sinta as sensações corporais que ocorrem nesse momento, se há tensões musculares, dores, qualquer sensação desconforto, não tente modificá-la, apenas perceba. Perceba as sensações: “Estou irritado” ou “Estou triste” ou “Estou com medo e preocupado”. Te convido que gentilmente não tente modificar isso, apenas aceite. Traga a sua atenção ao seu corpo, às sensações que este corpo te comunica. Conecte-se com as sensações, sem julgar ou comentar e apenas respire com elas. Permita-se apenas estar e relaxar com qualquer coisa que esteja presente – nossa mente irá se distrair com algo externo, sejam ruídos ou pensamentos de “tenho que fazer, pensar”; apenas agradeça a estes pensamentos e volte a sua atenção para a prática nas sensações de seu corpo. Neste momento, não há nada o que fazer e nenhum lugar para ir, apenas fique aqui no momento presente prestando atenção no seu corpo.
Pronto!
Parabenize-se: você parou por um momento para conectar-se com o que é importante – você mesmo.
Espero que tenha gostado, pois nos cuidando e cuidando dos outros com os protocolos preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde vamos juntos sair dessa situação com novos aprendizados, buscando significado para a nossa existência com maior propósito de vida, agindo de forma mais coerente e equilibrada com gentileza e compaixão pelo próximo e o planeta.



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